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O PÃO



Manoel de Oliveira, 1959(1966)

35 mm - cor - 58 mIn


Realização - Manoel de Oliveira

Produção - Manoel de Oliveira

Notas - Versão de 1964 - 820 mt 29 mn

Ass. Realização - António Lopes Fernandes, Sebastiao de Almeida

Argumento - Manoel de Oliveira

Planif/Seq - Manoel de Oliveira

Fotografia - Manoel de Oliveira

Iluminação - (Chefe) Augusto Camilo

Direc de Som - Fernando Jorge

Ass. de Som - António Ribeiro

Sonoplastia/Mist. - (Transcrição do Magnético para Óptico) Enrique Dominguez.

Montagem - Manoel de Oliveira

Lab Imagem - Tobis Portuguesa; 1964: Tobis Portuguesa, Ulyssea Filme

Reg Som - Nacional Filmes

Patrocínio - Federação Nacional dos Industriais de Moagem/FNIM

Distribuição - Filmes Castello Lopes


Sinopse:

O pão de cada dia obriga a um esforço constante, de que o homem sai dignificado... O ciclo da semente: fecundação, nascimento, recolha, transporte do grão, moagem industrial, panificação moderna, distribuição e consumo do pão. Regresso da semente à terra. Um novo ciclo se inicia...


Crítica:

Em 1959 Manoel de Oliveira realiza, a partir de uma encomenda da Federação Nacional dos Industriais de Moagem, um documentário, “O Pão”, em que garante total liberdade de criação, o que lhe permitiu, tal como outros cineastas que aceitaram encomendas institucionais ou publicitárias, explorar a linguagem cinematográfica e produzir objectos que ultrapassam largamente o pedido meramente ilustrativo. Em “O Pão”, Oliveira executa um minucioso trabalho de montagem a partir de milhares de metros de película, procurando “dar alma às imagens, emprestar um sentido e um significado a cada sequência, investigar sobre a linguagem estética, para que a obra forme um todo significante, se erga e se equilibre” (Henrique Alves Costa).

No filme, segue-se o percurso do fabrico do pão, da sementeira à degustação, num claro contraste entre tradição e modernidade. Esse contraste é perceptível na forma como se opõe o fabrico artesanal e industrial, com imagens de agricultores e ceifeiras debulhadoras, moinhos e modernas instalações fabris, gente do campo e da cidade. Um dos símbolos de modernidade que Oliveira escolhe, entre as máquinas, os comboios ou a música, é precisamente a arquitectura, mostrando, no início do percurso de distribuição do pão por Lisboa, um plano dos edifícios no cruzamento das Avenidas de Roma e dos Estados Unidos da América, onde a elite cultural lisboeta de então se encontrava nas tertúlias do café Vá-Vá.

Há no filme uma vontade de dar uma cara a essas mudanças da modernidade, como se Oliveira quisesse mostrar um rosto humano da industrialização, fixando planos nos rostos dos funcionários e patrões. Há também um sentido transversal no filme, com a mensagem de que todos - pobres, ricos, gente do campo ou da cidade – comem o pão. Há, no entanto um jogo de contrastes, entre a riqueza e o excesso de alguns (o homem que exibe a sua gula perante a câmara) e a pobreza das crianças que recolhem do passeio o pão que alguém tinha deixado cair. A miséria que atravessava o país não era apenas a do honrado e frugal modo de vida rural que o regime propagandisticamente apregoava.

Oliveira faz também a associação entre o sentido profano e sagrado do pão, misturando imagens de um casamento numa igreja, da última ceia ou da hóstia, com imagens das sementes que são lançadas à terra e das máquinas que colhem o cereal já pronto a ser ceifado. É também subentendida a referência à guerra colonial, que nos anos de produção do filme se intensificou, com Oliveira justapondo uma imagem da Guernica de Picasso a um “exército” de tractores que assomam ao topo de uma colina e que avançam sobre o enquadramento. Os planos finais são belíssimos, com o vento a fustigar uma enorme planície verde, o movimento ondulante dos cereais a reverberar pela paisagem.



Imagem © Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema


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